sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Filho Ausente


AS DORES DE MINHA MÃE FORAM ALÉM DOS PARTOS

Minha mãe completou oitenta e um anos. Certeza. O mês de natalício é Fevereiro, mas o dia me falha à memória, mas já habitou por lá.
Sei que alguns se ajuntaram no dia treze para comemorar. A notícia não me chegou a tempo, além de desprevenido outros contratempos fizeram-se obstáculos como, por exemplo, hóspedes carnavalescos.
Quando eu era menino não deixava a data passar em branco. A mãe era tudo e algumas engraxadas a mais se transformavam numa linda bandeja. Esta bandeja estampada transformava-se num presente extraordinário. Lembro-me desta bandeja, hoje ainda existente, mas com uma necessária pintura a óleo que cobriu as ferrugens e o inesquecível estampado. É verdade que já dei jogo de sofá ou mesmo cerquei o quintal de lajotas, mas acho que o primeiro presente a gente nunca esquece!
Pobre não faz aniversário, ou seja, não comemora então como guardar a data?
Quando muito o filho traz pra casa um cartão-coração desenhado e recortado da cartolina por ele próprio, num incentivo escolar que gera até nota.
Não sei se tais presentes, em sua maioria, se eram entregues no Dia das Mães ou no aniversário ou ambos, por incrível que possa parecer.
Uma mãe pobre de nove filhos, por mais que se faça presente, alguns deles ficarão à deriva. Este negócio de que filho é tudo igual é a mais pura mentira – Mãe protege os menos aptos à sobrevivência.
Até a idade dela de hoje ainda existem, sob sua dependência exclusiva, filhos sexagenários. Certamente por isto é que insiste em viver, apesar das dores – Eita missão sem fim!
Ela que andava a passos largos pela cidade em busca de ovelhas perdidas tem hoje apenas alguns passos miúdos em torno do fogão, onde o alimento nunca faltou aos filhos. O diabetes talvez seja sua companheira de viuvez, além do peso excessivo mal acompanhado de dores imensas nas articulações.
Meu pai, além da pensão mínima, não ajudou muito no cumprimento da missão. Partiu cedo, embalado aos cinqüenta e um pelo consumo de aguardentes.
Não ficou nenhuma herança aos filhos, mas dívidas genéticas. Eu, a exemplo de outros, já tive perturbações mentais e outros continuam em botecos “limpando a goela”, certamente para descer melhor o pó da terra.
Talvez o desgosto consuma minha mãe e venha à mente que nada valeu a pena com filhos distantes e ausentes, mas engana-se. Quanto mais ausente e distante prova-se que asas foram tecidas para a grande jornada.
Quando perante as dificuldades minha mãe tenha optado por um caminho diferente, com certeza não manchou o heroísmo desmedido.
É verdade que a distância nos desacostumou, mas não esqueço jamais das dores de minha mãe e do meu amor.
Parabéns e muito orgulho!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010


ALMOÇO E JANTAR NO ASILO

A falta de tempo nunca será um bom álibi para a ausência de caridade.
Um amigo meu que mora fora da cidade, mas com raízes profundas em Goiandira, autorizou-me a promover um almoço no Asilo com as despesas por conta dele.
Procurando a Presidência da Instituição informei-me do cardápio preferido e da respectiva lista de compras.
Um porém fez-se presente, pois para doação haveria a necessidade de se doar alimentos suficientes para o almoço e jantar sendo que o jantar acontece com as sobras do almoço, inclusive com adição de quatro funcionários. A relação era simples que não vi problemas neste sentido.
O Cardápio preferido dos dezoito internos resume-se a arroz, feijão, maionese, frango ao molho, macarronada, salada de tomate, refrigerante e, como sobremesa, Romeu e Julieta.
Mais modesto ainda o total da despesa que não chegou a R$91,00 (noventa e um reais).
Neste almoço estarei com os velhinhos no Domingo de Carnaval.
É fácil fazer caridade e, ainda por cima, barato.
Muito obrigado, amigo e quaisquer outras coisas, no quesito de amor ao próximo, estamos prontos. Que Deus não te poupe jamais de tais ações.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O tempo é nosso aliado


MINHA AGENDA NÃO É DISPONIBILIDADE ZERO

Como não acredito no acaso, dia 04 de fevereiro, o destino traçado trouxe até minha casa, em Goiandira, reforço de idéia porque não tenho outra, o ilustre senhor jornalista araguarino, editor e amigo, Aloísio Nunes de Faria, além de patrimônio cultural itinerante, lógico.
Foi uma surpresa agradável, mas nem sobrou tempo de estender o tapete vermelho ou coar um cafezinho. Ao menos se refrescou do calor reinante com um sorvete caseiro, porém sem tempo pra escorrer o xarope como cobertura.
Os assuntos fervilharam em minha cabeça, mas poucos foram comentados devido à pressa do grande homem e das suas imensas responsabilidades. Um exemplar fresquinho do “Gazeta do Triângulo” foi trazido e tomou-me parte da tarde em leitura. Não gostei de uma foto da cidade de Araguari, em primeira página, mostrando Caldas Novas como destino onde, com certeza, a caldeira infernal esteja fervilhando ainda mais.
A vinda de tão grata personalidade, apurada por alto, a um minúsculo lugarejo, deve-se ao fato de ser membro colaborador do Patrimônio Histórico Artístico Nacional. Veio, portanto, a trabalho com fins de coleta de informações inerentes à restauração de uma antiga estação ferroviária de Goiandira. Só deve ter aceitado tal missão sabendo que poderia estar comigo um instante sequer. (risos convincentes)
Ele, espantado com a pequenez e tranqüilidade do município, perguntou-me o que eu faço pra matar o tempo por aqui. Respondi-lhe alguma coisa rapidamente, mas agora completo meu relatório de tarefas. Não há vínculo com a obrigatoriedade no cumprimento destas missões, mas um compromisso verdadeiro com a gratuidade.
Não ambiciono qualquer remuneração ou cargos e estou em busca de salvar a minha alma. Para a manutenção do corpo estou garantido, porém sem doenças que me acometam. Vamos ao meu roteiro de ocupação:
01) Todos os dias posso ter ações voltadas à religião, no caso o Espiritismo. Tais como visitas domiciliares a doentes, estudo do Evangelho, Distribuição de Sopa e donativos. O que me cabe, em especial, é uma relatoria das atividades do Centro.
02) Uma pretensa obra literária, intitulada “Aventura Ferroviária”, também toma meu tempo, pois tenho de visitar antigos ferroviários para ir preenchendo lacunas de uma história linda. Enquanto restauram monumentos de pedra eu procuro restaurar a vida daqueles homens de ferro que tinham nestes monumentos a vida depositada.
03) Também costumo me disponibilizar para o transporte de pacientes em tratamento à cidade de Catalão, mais próximo socorro.
04) O espaço compreendido num somatório aproximadamente de três horas destina-se às análises internéticas de leitura e de digitação. Frequento meus favoritos e atualizo meus blogs.
05) Sou “Amigo da Escola” e desenvolvemos o Projeto “Jornal na Escola”. Além de outras contribuições sou o designado para lastrear o editorial, chamado de Carta ao Leitor.
06) Ajudo nas tarefas domésticas e garanto que é o serviço mais duro.
07) Frequento as reuniões da Câmara e clamam-me no Rotary.
08) Planto, colho e distribuo horti-fruti-granjeiros aos próximos.
09) Podo e aguou grama, além de olhar nas árvores ou postes e conferir os pássaros.
10) Beijo a sogra e tenho pesadelos, não exatamente nesta ordem.
É mais ou menos assim e, como criança, não me esqueço de inovações sempre.
Tal agenda está sujeita a alterações tendo em vista que a Casa da Cultura deseja-me de mãos dadas no Projeto recém-implantado: “Pequenos Leitores, Grandes Escritores”.
O Asilo também merece minha atenção e esporadicamente contribuo para com os sorrisos desdentados, mas ainda, não demora muito, deverei vencer sóis e luas ao lado deles.
O resto do tempo eu descanso, leio e escrevo, de novo não exatamente nesta ordem.
Tenho uma providencial rede de balanço posicionada estrategicamente – meus pés apontam pra Catalão, minha cabeça remete-se a Araguari e Goiandira me embala.